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ARTIGO: Você Sabia?
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ARTIGO: Você Sabia?

"Hospitais de Transição como importante alternativa de desospitalização e continuidade do cuidado".

Os hospitais de transição começaram a surgir no final da década de 80 como unidades de cuidados sub-agudos ou pós-agudos para oferecerem atendimento a pacientes com grande perda funcional e alto grau de dependência após eventos agudos, traumas ou exacerbação de doenças preexistentes. Oferecem um programa extensivo de cuidados a pacientes com uma linha de tratamento já definido e que não requerem mais procedimentos diagnósticos intensivos ou invasivos. O serviço oferecido está em um nível abaixo do serviço tradicional hospitalar agudo, racionalizando o custo da assistência e permitindo que estruturas de alta complexidade e pessoal especializado estejam voltadas exclusivamente para pacientes agudos, mais graves, que requerem maior vigilância e foco em diagnóstico e tratamento.

Atualmente, países europeus e Canadá tem 10-25% dos leitos hospitalares na categoria de transição. Nos EUA, observamos uma situação invertida com mais de 2 milhões de leitos de cuidados pós-agudos para pouco menos de 1 milhão de leitos agudos.

Em nosso país, esse modelo de cuidado ainda se encontra em fase de implantação. No setor privado, as poucas unidades existentes correspondem a pouco mais de 1% do total de leitos hospitalares privados.

Os hospitais de transição situam-se numa posição intermediária entre os hospitais de cuidados agudos e os modelos de atenção domiciliar, permitindo uma redução progressiva da intensidade do cuidado, favorecendo a alta hospitalar precoce, em um ambiente controlado e seguro, acelerando a recuperação da autonomia e funcionalidade ou preparando paciente, família e cuidadores para os cuidados de longo prazo.

A linha assistencial segue uma abordagem por metas de cuidados para atender pacientes dependentes de cuidados médicos complexos, que podem ser reabilitação oral, decanulação traqueal, desmame de ventilação mecânica, controle de tronco, deambulação, capacitação de cuidadores, controle de dor, dentre outras. Requer serviço coordenado de uma equipe interdisciplinar treinada no manejo destas situações, composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, juntamente com a participação ativa da família. Trabalha com reavaliações recorrentes do paciente, revisão do curso clínico e definição de um plano de tratamento limitado por tempo, até que a condição clínica seja estabilizada ou um resultado atingido. O tempo médio de permanência em unidades de transição gira em torno de 60-90 dias.

A pandemia de Covid 19 trouxe grandes desafios aos sistemas de saúde e acabou por demonstrar o papel estratégico e relevância dos hospitais de transição na linha de cuidado. A gravidade desta infecção e suas complicações gerou um contingente elevado de pacientes totalmente dependentes, com miopatias e polineuropatias graves, variados graus de insuficiência respiratória, extensas lesões por pressão, insuficiência renal e os chamados críticos crônicos. As unidades de transição permitiram a liberação de leitos críticos e semi-críticos para pacientes mais graves em fase aguda e ainda promoveram a recuperação e independência funcional de inúmeros pacientes que se submeteram aos
programas de reabilitação integrados oferecidos nestas unidades.

Dentre os diversos desafios na incorporação do conceito da unidade de transição na linha do cuidado integrado está a interoperabilidade entre os modelos. Em países onde o desenho do sistema de saúde está mais amadurecido, pacientes em programa de atenção domiciliar são direcionados para unidades de transição, evitando-se assim a utilização de emergências e admissões desnecessárias em unidades de terapia intensiva, em especial para pacientes crônicos ou em cuidados paliativos.

Enfim, estamos avançando na busca da integração do cuidado, incorporando propostas assistenciais complementares e sinérgicas e uma ferramenta de grande valia para os gestores dos sistemas de saúde.

Carlos Alberto Chiesa – Presidente do Conselho