Hospitais e clínicas de transição têm papel de destaque para evitar os acidentes dos pacientes 60+ durante a jornada de cuidado, especialmente no retorno ao domicílio. Diferentemente dos hospitais tradicionais, estas unidades têm foco maior na autonomia, envolvendo mais o indivíduo na reabilitação
O Dia Mundial de Prevenção de Quedas em Idosos, celebrado anualmente em 24 de junho, é uma data dedicada a aumentar a conscientização sobre os riscos e a prevenção de quedas entre a população 60+. Segundo o Ministério da Saúde, as quedas são a terceira causa de mortalidade entre as pessoas com mais de 65 anos e levaram a óbito 70.516 idosos, entre 2013 e 2022, no Brasil. O último censo do IBGE revelou que o país tem 22 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, o que significa 11% da população. As estatísticas apontam que aproximadamente um terço dos idosos, ou seja, mais de sete milhões, sofre uma queda por ano no ambiente doméstico.
Michele Malta, gerente assistencial de qualidade e segurança do paciente na Rede Altana, associada da Associação Brasileira de Hospitais e Clínicas de Transição (Abrahct), explica que as quedas, seja em ambiente hospitalar, durante a transição de cuidados, ou em home care, representam um risco significativo por impactarem não somente na vida dos pacientes, como na sociedade e também no ecossistema de saúde.
Nos hospitais de transição, que atendem não apenas idosos, mas também pacientes em outras fases da vida que estão em risco, essa preocupação é constante, demandando protocolos específicos para prevenir acidentes durante a sua jornada. A prevenção de quedas envolve múltiplos aspectos, desde a adaptação do ambiente doméstico para eliminar riscos, até a promoção de um estilo de vida saudável que inclua alimentação balanceada, atividade física regular e controle de doenças crônicas.
O papel da unidade de transição está na promoção da autonomia dos pacientes. No ambiente hospitalar tradicional, as sessões de fisioterapia ocorrem uma vez ao dia, podendo não ser suficiente para prepará-los para a transição para casa. No entanto, as unidades de transição têm um foco mais forte na autonomia e em prepararem para a volta do convívio social, incluindo não somente sessões de fisioterapia e terapia ocupacional, como também outras atividades que simulam a sua rotina diária. Além de um maior envolvimento da família, o que é essencial nesse processo.
“É fundamental permitir que mantenham sua independência, explicando os riscos envolvidos e capacitando-os para tomar decisões informadas sobre sua própria saúde”, reforça.
Como funciona o trabalho de prevenção de quedas nas unidades de transição
Existem algumas etapas envolvidas na prevenção de quedas em uma unidade de transição. Quando um paciente ingressa na organização, é feita uma avaliação de risco de quedas utilizando uma escala internacional. Pacientes identificados como de alto risco recebem uma pulseira amarela, que é uma cor universal para indicar esse risco. Também é sempre entregue a família e ao cuidador uma cartilha de segurança. Adicionalmente, em cada intervenção assistencial, os profissionais orientam sobre o risco específico do paciente.
Além disso, a equipe responsável toma ações relacionadas aos medicamentos prescritos. Por exemplo, se o paciente tem mobilidade e pode ir ao banheiro sozinho, a equipe multidisciplinar avalia se é adequado prescrever diuréticos à noite, pois isso poderia aumentar o risco de queda devido à necessidade de levantar-se para urinar.
“São ações desse tipo que realizamos. Com os cuidadores, damos orientações constantes sobre os riscos que os pacientes enfrentam durante a internação. Por exemplo, quando estão no leito, orientamos a manter as grades elevadas para evitar que se desloquem sozinhos até o banheiro”, ressalta Michele.
Michele destaca ainda que ao retornar para o domicílio, também é necessário considerar a mobilização do paciente e lembrar de alguns pontos importantes. Isso inclui o uso de calçados adequados, tapetes antiderrapantes e uma avaliação para saber se a estrutura da casa está em condições seguras para a mobilidade do paciente, especialmente se ele usa andador ou bengala. Essas estruturas devem ser bem ajustadas. Outra questão importante é o uso de óculos. Se o paciente precisa de óculos, ele deve ser orientado a usá-los para se movimentar.
“Ao fazer a transição do hospital para o domicílio, é imprescindível considerar que, se o paciente cair, sua fragilidade óssea pode tornar as lesões mais graves,podendo levar à necessidade de readmissão hospitalar e até mesmo à realização de intervenções cirúrgicas”, salienta Michele.
Também vale ressaltar sempre que, se o paciente apresentar resistência à orientação, o mais indicado é a associação de uma abordagem psicológica, o que também acontece nas unidades de transição. É importante explorar diferentes formas de comunicação e intervenção, pois, mesmo com o envolvimento de profissionais de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional e assistência social, o psicólogo pode trazer à tona questões cognitivas e de entendimento que não foram abordadas anteriormente, como a percepção do momento presente.
“Em minha experiência hospitalar, tenho visto que algumas pessoas minimizam o impacto das quedas, mas elas podem desencadear complicações graves, como fraturas de quadril, cirurgias e até infecções que podem levar à morte. O custo não se resume apenas ao aspecto econômico, mas também ao social, como a perda de tempo de trabalho, especialmente para pessoas jovens. Portanto, é importante considerar todos os fatores envolvidos na prevenção de quedas, já que são multifacetados e têm consequências sérias”, alerta Michele.