A despeito de possuírem menores índices, medidas de conscientização, educação e controle são extremamente importantes para evitar contaminação de pacientes internados nessas instituições
O principal desafio quando se fala de infecções hospitalares é prevenir e controlar a disseminação de patógenos entre pacientes, profissionais de saúde e visitantes. As infecções hospitalares, também conhecidas como infecções relacionadas à assistência à saúde, são um importante problema de saúde pública em todo o mundo.
Os pacientes hospitalizados, frequentemente, possuem sistemas imunológicos enfraquecidos ou já enfrentam outras condições de saúde graves, o que os torna mais suscetíveis a infecções. Além disso, os hospitais são ambientes propícios para a proliferação de micro-organismos, uma vez que há muitas pessoas em contato próximo, uso de equipamentos e superfícies compartilhadas e procedimentos invasivos.
No caso dos hospitais e das clínicas de transição, os índices de infecções são inferiores aos encontrados em hospitais gerais. De acordo com Erica Araujo, enfermeira do controle de infecção, isso pode ocorrer por diversos fatores, como a redução ou ausência de unidades críticas, entre elas Unidades de Terapias Intensiva (UTI), Centros Cirúrgicos, Laboratórios e CME. Ademais, essa redução dos casos também pode ser atribuída ao próprio perfil de pacientes que frequentam o hospital de transição. No geral, são pessoas que já apresentam um diagnóstico prévio com uma meta de linha de cuidado traçada, que não demandam realizar procedimentos invasivos com tanta frequência.
“Vale ressaltar que o funcionamento do hospital de transição tem o objetivo de reabilitar o paciente para o lar ou adequar o cuidado do paciente. E, nesse momento, o paciente passa a ser mais manipulado pelo familiar ou acompanhante. Desta forma, reduz-se a manipulação da equipe assistencial e, consequentemente, o índice de infecção por contaminação cruzada”, acrescenta a especialista.
No entanto, isso não significa que as infecções não sejam uma preocupação nos hospitais e nas clínicas de transição. Pelo contrário, os pacientes internados nas unidades de transição requerem uma atenção maior. Afinal, na maioria das situações passaram por procedimentos invasivos, no período em que estiveram internados em um hospital geral, e podem estar amplamente colonizados. “Se houver qualquer fragilidade nas práticas de prevenção, pode ocorrer um surto de micro-organismos e gerar uma cascata de infecções em um local que até então estava estéril.”
Além disso, há benefícios para o paciente trazidos pelo próprio hospital de transição – ambiente mais similar ao doméstico e flexibilidade na frequência de visitas de familiares, animais domésticos, etc. – que podem, por outro lado, representar riscos. Essas facilidades, ao mesmo tempo que são extremamente positivas para os pacientes, são uma porta de entrada de micro-organismos e patógenos e podem prejudicar essas pessoas, que na grande maioria das vezes ainda se encontram vulneráveis.
“O controle de infecção dos hospitais de transição tem uma missão maior, pois, além de tomar medidas para prevenir as infecções, têm o principal objetivo de garantir que os processos e fluxos não interfiram na autonomia do paciente, na liberdade de frequentar os ambientes e participar das atividades complementares”, explica a especialista.
A melhor forma de prevenir e controlar infecções hospitalares é por meio da implementação de uma rigorosa estratégia de controle de infecção, que envolve um conjunto de medidas e técnicas usadas para prevenir e controlar a disseminação de infecções em ambientes de saúde e em outros locais, onde o risco de transmissão de patógenos é elevado.
Os principais desafios nessa questão, segundo Erica, são o controle dos antimicrobianos e a adesão às boas práticas de prevenção e disseminação de micro-organismos multirresistentes. Ou seja, é preciso garantir que todas as equipes de saúde estejam treinadas e conscientes quanto à importância do controle de infecção, que os recursos necessários estejam disponíveis para a implementação adequada das medidas e que haja um sistema eficiente de monitoramento e vigilância epidemiológica para detectar e responder rapidamente a surtos de infecções hospitalares.
Outro desafio é o desenvolvimento de resistência antimicrobiana, tornando o tratamento de infecções hospitalares mais difícil e levando, em alguns casos, a aumento na morbidade e mortalidade. É importante haver um esforço contínuo para promover o uso racional de antimicrobianos e desenvolver novas terapias para combater as infecções hospitalares.
No caso dos hospitais de transição, segundo Erica, uma forma de reduzir o uso de antimicrobianos é por meio da busca ativa diária das prescrições deles, acompanhando o tempo de uso e conscientizando diariamente os médicos sobre o consumo irracional de antimicrobianos.
“Nas boas práticas de prevenção da disseminação de micro-organismos, isso é normalmente tratado com educação continuada dos nossos profissionais e com a realização de rondas diariamente nos setores para verificar de perto as rotinas e fornecer orientações para corrigir as não conformidades encontradas”, finaliza.