Como os hospitais de transição encaixam-se no modelo de saúde brasileiro

Quando o assunto é saúde, o Brasil enfrenta muitos desafios para garantir, ao mesmo tempo, equidade de acesso, qualidade, equilíbrio de custos e menos desperdício de recursos. 

Aliás, poucas indústrias têm tanto desperdício quanto a saúde. Daí a importância de buscar soluções que ajudem a otimizar os recursos são sempre bem-vindas. 

Os hospitais de transição emergem como uma excelente opção nesse sentido. Eles ocupam um espaço importante na plataforma de serviços de saúde dentro de um percurso lógico e coerente que o paciente percorre no sistema de saúde, trazendo benefícios para todos os envolvidos e sendo extremamente eficientes quando se trata de melhorar a sustentabilidade do setor. 

Entenda um pouco mais como funciona o modelo de saúde brasileiro e como o hospital de transição encaixa-se nisso tudo, colaborando para desafogar esse sistema. 

Conhecendo como funciona o modelo de saúde brasileiro e seus desafios

Embora a pandemia tenha acalmado e deixado de ser a preocupação principal na saúde, ainda persistem vários efeitos da crise nessa área.

O gasto público com saúde no Brasil está atualmente em 3,8% do PIB, percentagem inferior aos 6% apontados como adequados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Para 2023, o orçamento da saúde deve ficar ainda mais escasso e desigual. 

Esse cenário, segundo especialistas, pode dificultar o atendimento de demandas represadas pela pandemia, como exames e cirurgias eletivas, além de agravar problemas crônicos do sistema público, que sofre com longas filas, carência de profissionais e falta de leitos.

Soma-se a isso o fato de que, nos próximos 30 anos, a população brasileira acima de 60 anos dobrará, o que pressionará ainda mais o segmento da saúde. Isso ocorre em especial porque adultos mais velhos geralmente experimentam declínio funcional após cuidados médicos agudos, demandando ainda mais atenção e recursos para serem tratados. 

Além disso, estamos habituados a focar muito mais a doença e o tratamento curativo do que a prevenção e a qualidade de vida das pessoas, independentemente da fase em que elas se encontram. 

É fato também que existe certa resistência ao novo — basta olhar para a digitalização e o uso de tecnologia, que sempre é questionado e discutido, apesar dos seus inúmeros benefícios. É por isso mesmo que, embora os hospitais de transição tenham muito a contribuir para o ecossistema, existe uma dificuldade de consolidar esse modelo relativamente novo.  

São múltiplos os motivos dessa resistência. Porém, por termos sido formados nesse modelo tradicional do hospital geral, é mais complexo entender que pode haver outro tipo de estrutura com condições de conseguir cuidar bem, e até melhor, em determinada situação, do que um hospital convencional. 

O cenário dos hospitais de transição no Brasil

Dessa forma, o modelo de hospital de transição ainda está conquistando espaço por aqui, assim como vem acontecendo nos EUA, nas últimas décadas. Atualmente, o Brasil conta com cerca de 1.800 leitos dessa modalidade, todos no sistema privado, com uma relação de 13 leitos de transição para cada 1.000 leitos de cuidados agudos. 

É um grande contraste, por exemplo, com as relações de 200 (Portugal, Canadá) para cada 1.000 leitos hospitalares agudos (EUA), em diversos países com sistemas de saúde mais maduros.

Trata-se, portanto, de um segmento que tem muito a crescer, em especial pelo fato de colocar as pessoas no centro do cuidado. A pandemia da covid-19 evidenciou a necessidade dos hospitais de transição. 

Em todas as regiões do país, eles tiveram seu valor percebido pelas operadoras de serviços e pelo mercado de saúde. 

Mas como os hospitais de transição poderiam trazer mais fôlego para o sistema de saúde? 

Pacientes que demandam por cuidados continuados ocupam leitos em hospitais de alta complexidade, certo? No entanto, na maioria das situações, apesar de não estarem em estado tão crítico de saúde ou pelo fato de demandarem cuidados paliativos, eles não estão aptos a voltar para casa e retomar suas atividades.

A adoção desse modelo propicia a programação da terapêutica, desde a fase aguda até a reabilitação. O desenvolvimento de cuidados pós-agudos nos sistemas médicos de vários países foi originalmente motivado, em geral, pelo desejo de reduzir o tempo de hospitalização de cuidados agudos e, assim, diminuir as despesas médicas totais.  No modelo tradicional, estima-se que, a cada três reais gastos, um não ajuda ninguém a sequer viver mais ou a viver melhor.

Dessa forma, hospitais de transição, por demandarem uma estrutura menos complexa e com menos investimentos em tecnologias de equipamentos, além de preencherem a lacuna da escassez de leitos, cumprem com o propósito de trazer mais eficiência ao processo de saúde, reduzindo os custos da internação prolongada entre 30% a 75%. Isso se deve ao fato de que o custo de um paciente no hospital de transição é cerca de 15% a 40% de um hospital geral.

O objetivo é promover a recuperação funcional dessas pessoas, prevenindo, ainda, reinternações hospitalares desnecessárias e riscos de infecções que podem ocorrer no ambiente hospitalar e que certamente seriam fontes geradoras de novas despesas no curto prazo.  

Por fim, além de toda essa economia, vale ressaltar que o mais importante disso tudo é o fato de o hospital de transição conseguir proporcionar algo mais adequado e com mais valor para o paciente, para a família, para a fonte pagadora — o convênio — e para o médico que acompanha o caso.

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Quando o assunto é saúde, o Brasil enfrenta muitos desafios para garantir, ao mesmo tempo, equidade de acesso, qualidade, equilíbrio de custos e menos desperdício de recursos. 

Aliás, poucas indústrias têm tanto desperdício quanto a saúde. Daí a importância de buscar soluções que ajudem a otimizar os recursos são sempre bem-vindas. 

Os hospitais de transição emergem como uma excelente opção nesse sentido. Eles ocupam um espaço importante na plataforma de serviços de saúde dentro de um percurso lógico e coerente que o paciente percorre no sistema de saúde, trazendo benefícios para todos os envolvidos e sendo extremamente eficientes quando se trata de melhorar a sustentabilidade do setor. 

Entenda um pouco mais como funciona o modelo de saúde brasileiro e como o hospital de transição encaixa-se nisso tudo, colaborando para desafogar esse sistema. 

Conhecendo como funciona o modelo de saúde brasileiro e seus desafios

Embora a pandemia tenha acalmado e deixado de ser a preocupação principal na saúde, ainda persistem vários efeitos da crise nessa área.

O gasto público com saúde no Brasil está atualmente em 3,8% do PIB, percentagem inferior aos 6% apontados como adequados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Para 2023, o orçamento da saúde deve ficar ainda mais escasso e desigual. 

Esse cenário, segundo especialistas, pode dificultar o atendimento de demandas represadas pela pandemia, como exames e cirurgias eletivas, além de agravar problemas crônicos do sistema público, que sofre com longas filas, carência de profissionais e falta de leitos.

Soma-se a isso o fato de que, nos próximos 30 anos, a população brasileira acima de 60 anos dobrará, o que pressionará ainda mais o segmento da saúde. Isso ocorre em especial porque adultos mais velhos geralmente experimentam declínio funcional após cuidados médicos agudos, demandando ainda mais atenção e recursos para serem tratados. 

Além disso, estamos habituados a focar muito mais a doença e o tratamento curativo do que a prevenção e a qualidade de vida das pessoas, independentemente da fase em que elas se encontram. 

É fato também que existe certa resistência ao novo — basta olhar para a digitalização e o uso de tecnologia, que sempre é questionado e discutido, apesar dos seus inúmeros benefícios. É por isso mesmo que, embora os hospitais de transição tenham muito a contribuir para o ecossistema, existe uma dificuldade de consolidar esse modelo relativamente novo.  

São múltiplos os motivos dessa resistência. Porém, por termos sido formados nesse modelo tradicional do hospital geral, é mais complexo entender que pode haver outro tipo de estrutura com condições de conseguir cuidar bem, e até melhor, em determinada situação, do que um hospital convencional. 

O cenário dos hospitais de transição no Brasil

Dessa forma, o modelo de hospital de transição ainda está conquistando espaço por aqui, assim como vem acontecendo nos EUA, nas últimas décadas. Atualmente, o Brasil conta com cerca de 1.800 leitos dessa modalidade, todos no sistema privado, com uma relação de 13 leitos de transição para cada 1.000 leitos de cuidados agudos. 

É um grande contraste, por exemplo, com as relações de 200 (Portugal, Canadá) para cada 1.000 leitos hospitalares agudos (EUA), em diversos países com sistemas de saúde mais maduros.

Trata-se, portanto, de um segmento que tem muito a crescer, em especial pelo fato de colocar as pessoas no centro do cuidado. A pandemia da covid-19 evidenciou a necessidade dos hospitais de transição. 

Em todas as regiões do país, eles tiveram seu valor percebido pelas operadoras de serviços e pelo mercado de saúde. 

Mas como os hospitais de transição poderiam trazer mais fôlego para o sistema de saúde? 

Pacientes que demandam por cuidados continuados ocupam leitos em hospitais de alta complexidade, certo? No entanto, na maioria das situações, apesar de não estarem em estado tão crítico de saúde ou pelo fato de demandarem cuidados paliativos, eles não estão aptos a voltar para casa e retomar suas atividades.

A adoção desse modelo propicia a programação da terapêutica, desde a fase aguda até a reabilitação. O desenvolvimento de cuidados pós-agudos nos sistemas médicos de vários países foi originalmente motivado, em geral, pelo desejo de reduzir o tempo de hospitalização de cuidados agudos e, assim, diminuir as despesas médicas totais.  No modelo tradicional, estima-se que, a cada três reais gastos, um não ajuda ninguém a sequer viver mais ou a viver melhor.

Dessa forma, hospitais de transição, por demandarem uma estrutura menos complexa e com menos investimentos em tecnologias de equipamentos, além de preencherem a lacuna da escassez de leitos, cumprem com o propósito de trazer mais eficiência ao processo de saúde, reduzindo os custos da internação prolongada entre 30% a 75%. Isso se deve ao fato de que o custo de um paciente no hospital de transição é cerca de 15% a 40% de um hospital geral.

O objetivo é promover a recuperação funcional dessas pessoas, prevenindo, ainda, reinternações hospitalares desnecessárias e riscos de infecções que podem ocorrer no ambiente hospitalar e que certamente seriam fontes geradoras de novas despesas no curto prazo.  

Por fim, além de toda essa economia, vale ressaltar que o mais importante disso tudo é o fato de o hospital de transição conseguir proporcionar algo mais adequado e com mais valor para o paciente, para a família, para a fonte pagadora — o convênio — e para o médico que acompanha o caso.