O que é um hospital de transição? Entenda o papel desse importante elo da cadeia de saúde

O nome parece estranho e, para quem é leigo, apesar de literal, não esclarece realmente o que é um hospital de transição e o seu papel no sistema de saúde. 

Mas, graças à sua proposta assistencial diferenciada, trata-se de um importante ator, que tem muito a contribuir para a sustentabilidade do setor em sua totalidade. 

Neste conteúdo, explicaremos o que é um hospital de transição, bem como os tipos de cuidados que oferece, em quais casos é indicado e sua eficiência no processo de desospitalização, que consiste na retirada do paciente do ambiente hospitalar para prosseguir com um tratamento domiciliar ou em outra estrutura de assistência. 

De onde vem o conceito de hospital de transição?

Os hospitais de transição surgiram na América do Norte e Europa no final da década de 1980. O objetivo era atender às necessidades de continuidade de cuidados em ambiente hospitalar de pacientes com perdas funcionais e alto grau de dependência.

Já no Brasil, esse é um conceito relativamente novo – as primeiras unidades começaram a partir da década de 2000 -, mas no Hemisfério Norte é bastante conhecido. Foi criado com o intuito de equilibrar um aspecto importante: reduzir os custos diários das instalações em relação ao de hospitais gerais e, ao mesmo tempo, oferecer um nível mais elevado de terapias profissionais, como fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia, do que em locais mais baseados em um modelo assistencial padrão. 

Embora o hospital de transição tenha um lado importante de desospitalização, redução de custo e planejamento assistencial, ele também traz inúmeros benefícios para os pacientes.

Aprofundando-se nos detalhes do conceito e do funcionamento 

Normalmente, as pessoas têm a ideia de que existem duas portas de saída, após um período de internação hospitalar. Na primeira, o paciente recupera-se e vai para casa, requerendo acompanhamento, mas nada complexo. 

Na segunda, recupera-se parcialmente e vai para casa demandando cuidados, que podem ser paliativos (em casos de doenças terminais), ou então precisando passar por um processo de reabilitação, que será crucial para a retomada de sua qualidade de vida – o chamado home care.

O que poucas pessoas sabem é que existe uma camada intermediária entre os hospitais de cuidados agudos e os modelos de atenção domiciliar. Esse caminho é o Hospital de transição. Tanto ele quanto a assistência domiciliar e ambulatorial estão inseridos no modelo de cuidado pós-agudo. 

Quando definimos o que é o hospital de transição, devemos sempre pensar em uma espécie de ponte entre o hospital e a casa do paciente. Sua função é proporcionar um cuidado de qualidade, recorrendo a todos os recursos necessários. Assim, evita que se mantenham internados em um hospital de alta complexidade sem real necessidade. 

O objetivo é receber o paciente e resolver um problema. Isso significa a plena recuperação ou o máximo de ganho de funcionalidades, controles vitais e independência possíveis,  diminuindo o tempo de internação hospitalar tradicional, melhorando o estado de saúde e devolvendo esse paciente para sua família em condição estável. Ou então, infelizmente, a solução desse caso é exatamente todo o suporte para um fim de vida com dignidade, conforto, controle de sintomas, apoio à família, etc. 

Desta forma, o hospital de transição remete a algo dinâmico, literalmente a um processo transitório e de mudança, caracterizando-se como um modelo de saúde supletiva. Essa característica define que ele atue num modelo de média permanência – pacientes ficam em média 60 a 90 dias no local – e o difere de uma instituição de longa permanência, como uma casa de repouso ou instituições asilares. 

Nesse último caso, estamos, por exemplo, que consistem em um modelo muito mais assistencial e para onde são normalmente enviadas pessoas cujas famílias não conseguem se responsabilizar ou não desejam assumir o cuidado delas. 

A linha assistencial segue uma abordagem por metas de cuidados para atender pacientes dependentes de cuidados médicos complexos, que podem ser reabilitação oral, decanulação traqueal, desmame de ventilação mecânica, controle de tronco, deambulação, capacitação de cuidadores, controle de dor, entre outras. 

O hospital de transição requer serviço coordenado de uma equipe interdisciplinar treinada no manejo dessas situações, composta de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, com a participação ativa da família. 

O modelo trabalha com reavaliações recorrentes do paciente, revisão do curso clínico e definição de um plano de tratamento limitado por tempo, até que a condição clínica seja estabilizada ou um resultado, seja atingido. 

Exemplificando para ajudar a esclarecer o que é hospital de transição 

Voltemos alguns meses ao auge da pandemia de covid-19. Pessoas saindo de um estado crítico de saúde, recuperando-se de uma doença grave, com todas aquelas sequelas: sentindo fraqueza muscular, não conseguindo caminhar, sentar-se ou até alimentar-se por via oral, etc. As famílias, por sua vez, estavam extremamente inseguras a respeito de como cuidar desses seus entes, alguns ainda usando cânula traqueal, com o mesmo cuidado e segurança que recebiam no período de internação.  

Ainda, os hospitais estavam lotados, precisando liberar leitos para receber os casos mais graves. Faltava espaço para acolher, tratar e dar continuidade ao tratamento que esses pacientes seguiam precisando. Afinal, eles ainda não estavam 100% prontos para voltar às suas casas. 

O que fazer nesses casos? Para onde mandar esses pacientes? Uma casa de repouso? A resposta é não, pois lá não teriam a assistência médica e o cuidado multidisciplinar de que necessitariam. 

Manter em um hospital privado de alta complexidade? É uma opção, mas a conta poderia sair cara. E, com o paciente de alta médica, o convênio poderia não cobrir as despesas. Ah, levar para casa? Difícil, pois, como orquestrar toda a logística de cuidado, da reabilitação, adequação do ambiente e ainda dar conta do restante da rotina familiar? Além disso, dados mostram que 50% dos pedidos de home care são recusados pelas operadoras de saúde, e sem auxílio de um time, fica complexo. 

Diante desse cenário, os hospitais de transição tiveram um importante papel, viabilizando que pacientes voltassem para suas casas, 30 a 45 dias depois da alta hospitalar de alta complexidade, com avanços consideráveis em sua qualidade de vida.

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O nome parece estranho e, para quem é leigo, apesar de literal, não esclarece realmente o que é um hospital de transição e o seu papel no sistema de saúde. 

Mas, graças à sua proposta assistencial diferenciada, trata-se de um importante ator, que tem muito a contribuir para a sustentabilidade do setor em sua totalidade. 

Neste conteúdo, explicaremos o que é um hospital de transição, bem como os tipos de cuidados que oferece, em quais casos é indicado e sua eficiência no processo de desospitalização, que consiste na retirada do paciente do ambiente hospitalar para prosseguir com um tratamento domiciliar ou em outra estrutura de assistência. 

De onde vem o conceito de hospital de transição?

Os hospitais de transição surgiram na América do Norte e Europa no final da década de 1980. O objetivo era atender às necessidades de continuidade de cuidados em ambiente hospitalar de pacientes com perdas funcionais e alto grau de dependência.

Já no Brasil, esse é um conceito relativamente novo – as primeiras unidades começaram a partir da década de 2000 -, mas no Hemisfério Norte é bastante conhecido. Foi criado com o intuito de equilibrar um aspecto importante: reduzir os custos diários das instalações em relação ao de hospitais gerais e, ao mesmo tempo, oferecer um nível mais elevado de terapias profissionais, como fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia, do que em locais mais baseados em um modelo assistencial padrão. 

Embora o hospital de transição tenha um lado importante de desospitalização, redução de custo e planejamento assistencial, ele também traz inúmeros benefícios para os pacientes.

Aprofundando-se nos detalhes do conceito e do funcionamento 

Normalmente, as pessoas têm a ideia de que existem duas portas de saída, após um período de internação hospitalar. Na primeira, o paciente recupera-se e vai para casa, requerendo acompanhamento, mas nada complexo. 

Na segunda, recupera-se parcialmente e vai para casa demandando cuidados, que podem ser paliativos (em casos de doenças terminais), ou então precisando passar por um processo de reabilitação, que será crucial para a retomada de sua qualidade de vida – o chamado home care.

O que poucas pessoas sabem é que existe uma camada intermediária entre os hospitais de cuidados agudos e os modelos de atenção domiciliar. Esse caminho é o Hospital de transição. Tanto ele quanto a assistência domiciliar e ambulatorial estão inseridos no modelo de cuidado pós-agudo. 

Quando definimos o que é o hospital de transição, devemos sempre pensar em uma espécie de ponte entre o hospital e a casa do paciente. Sua função é proporcionar um cuidado de qualidade, recorrendo a todos os recursos necessários. Assim, evita que se mantenham internados em um hospital de alta complexidade sem real necessidade. 

O objetivo é receber o paciente e resolver um problema. Isso significa a plena recuperação ou o máximo de ganho de funcionalidades, controles vitais e independência possíveis,  diminuindo o tempo de internação hospitalar tradicional, melhorando o estado de saúde e devolvendo esse paciente para sua família em condição estável. Ou então, infelizmente, a solução desse caso é exatamente todo o suporte para um fim de vida com dignidade, conforto, controle de sintomas, apoio à família, etc. 

Desta forma, o hospital de transição remete a algo dinâmico, literalmente a um processo transitório e de mudança, caracterizando-se como um modelo de saúde supletiva. Essa característica define que ele atue num modelo de média permanência – pacientes ficam em média 60 a 90 dias no local – e o difere de uma instituição de longa permanência, como uma casa de repouso ou instituições asilares. 

Nesse último caso, estamos, por exemplo, que consistem em um modelo muito mais assistencial e para onde são normalmente enviadas pessoas cujas famílias não conseguem se responsabilizar ou não desejam assumir o cuidado delas. 

A linha assistencial segue uma abordagem por metas de cuidados para atender pacientes dependentes de cuidados médicos complexos, que podem ser reabilitação oral, decanulação traqueal, desmame de ventilação mecânica, controle de tronco, deambulação, capacitação de cuidadores, controle de dor, entre outras. 

O hospital de transição requer serviço coordenado de uma equipe interdisciplinar treinada no manejo dessas situações, composta de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, com a participação ativa da família. 

O modelo trabalha com reavaliações recorrentes do paciente, revisão do curso clínico e definição de um plano de tratamento limitado por tempo, até que a condição clínica seja estabilizada ou um resultado, seja atingido. 

Exemplificando para ajudar a esclarecer o que é hospital de transição 

Voltemos alguns meses ao auge da pandemia de covid-19. Pessoas saindo de um estado crítico de saúde, recuperando-se de uma doença grave, com todas aquelas sequelas: sentindo fraqueza muscular, não conseguindo caminhar, sentar-se ou até alimentar-se por via oral, etc. As famílias, por sua vez, estavam extremamente inseguras a respeito de como cuidar desses seus entes, alguns ainda usando cânula traqueal, com o mesmo cuidado e segurança que recebiam no período de internação.  

Ainda, os hospitais estavam lotados, precisando liberar leitos para receber os casos mais graves. Faltava espaço para acolher, tratar e dar continuidade ao tratamento que esses pacientes seguiam precisando. Afinal, eles ainda não estavam 100% prontos para voltar às suas casas. 

O que fazer nesses casos? Para onde mandar esses pacientes? Uma casa de repouso? A resposta é não, pois lá não teriam a assistência médica e o cuidado multidisciplinar de que necessitariam. 

Manter em um hospital privado de alta complexidade? É uma opção, mas a conta poderia sair cara. E, com o paciente de alta médica, o convênio poderia não cobrir as despesas. Ah, levar para casa? Difícil, pois, como orquestrar toda a logística de cuidado, da reabilitação, adequação do ambiente e ainda dar conta do restante da rotina familiar? Além disso, dados mostram que 50% dos pedidos de home care são recusados pelas operadoras de saúde, e sem auxílio de um time, fica complexo. 

Diante desse cenário, os hospitais de transição tiveram um importante papel, viabilizando que pacientes voltassem para suas casas, 30 a 45 dias depois da alta hospitalar de alta complexidade, com avanços consideráveis em sua qualidade de vida.